Crítica Guerra Cega, por Nelson de Sá



11/05/2009

Simplex

O Oficina estreou "O banquete" este fim de semana, em Zagreb, na Croácia. Mais especificamente, no festival Queer. Duas novas me animaram, sobre a peça, adaptada do diálogo de Platão sobre o amor. A apresentação não passaria de uma hora e meia. E Catherine Hirsch estaria em cena, atriz.
Não sei no que deu, como foi, não sei nada. Queria estar lá.
Em lugar de Zagreb e de Platão, fui parar na USP da Maria Antônia, na estreia da residência do Coletivo Bruto, com "Guerra Cega Simplex Feche os Olhos e Voe ou Guerra Malvada". Mario Vitor Santos chamou para ver. Como o nome indica e o programa explicita, é um "emaranhado de narrativas" com a cegueira como metáfora.
Sempre fico feliz de me identificar com um novo dramaturgo. Na verdade, com qualquer coisa que renove a experiência do teatro. Foi o que senti, com a dramaturgia de "Fritz Kater (Armin Petras)" e de Pernille Sonne, tradução de Cristine Röhrig.
Soube depois que Kater esteve e até se inspirou no Brasil, ao se encontrar com uma bailarina cega na avenida Paulista, algo assim. Mas o que me prendeu foi antes a colcha de retalhos formais que ele e também o Coletivo costuraram.
Como na Noruega de Peer Gynt, que vi na pele de Dan Stulbach há 18 anos, aqui o espectador segue aventuras pouco lineares, saltando de cenário em cenário, num grande painel desencontrado da Alemanha.
Talvez se concentre demais no holocausto, mais para o final; como me disseram, lutando uma batalha já ganha, ainda que Ahmadinejadi bata às portas.
Mas até então e mesmo aí, perto do fim, a experiência foi para mim uma lufada de ar, num teatro que anda pesado, desanimador. (Ultimamente, até stand up e musical, minhas esperanças, acabaram assimilados por conglomerados e expostos para consumo. E não ando com paciência para a politização patrocinada, acho uma ofensa ao Teatro.)
Sobra esperar pelo Platão do Zé, pelo Lima Barreto de Antunes. E às vezes encontrar pequenos tesouros como este Simplex.
O cenário em pedaços, o texto também, muito vídeo e microfone, música pop, o professor de filosofia Luiz Henrique Lopes mostrando a bunda, para mim e toda a plateia, inclusive José Arthur Giannotti. Impagável.
O Coletivo Bruto, que eu não conhecia, tem direção artística de Maria Tendlau, de quem já gostava como atriz na Cia. do Latão, cenografia e figurinos de Cris Cortiliio, interpretação de Lopes e Mariana Sucupira, Paulo Barcellos, Raissa Gregori e Wilson Julião.
Escrito por Nelson de Sá às 15h14
http://cacilda.folha.blog.uol.com.br/arch2009-05-10_2009-05-16.html#2009_05-11_16_14_47-2732708-0

Nenhum comentário:

Postar um comentário