Os procedimentos de criação que investigamos, e mesmo uma “ética da criação”, presentes nas intervenções cênicas que criamos, podem ser percebidos formalmente nos seguintes aspectos: convivência efetiva entre diferentes estilos e linguagens; permanência das características individuais de atuação, privilegiando a “apresentação” de cada atuante acima da qualidade de representação; e, por fim, o desvelamento dos processos de criação na cena, com ênfase numa espécie de “poluição da informação”. Trabalhamos por uma técnica de soma, de sobreposições e atritos de diferentes matérias, em contraponto a uma idéia de limpeza, síntese ou redução. Este procedimento possibilita revelar uma precariedade que dialoga com a própria condição da cena (com seus acordos e jogos instáveis estabelecidos na convivência), mas também com a condição política de precariedade em que vivemos. Assim, o acabamento cheio de arestas nos permite revelar um humor mais sarcástico, uma exposição do irresoluto, certa perversidade que a condição de precariedade nos impõe.
Onde irá acontecer o irresistível passeio de Héracles/Fatzer?
Registramos o processo de criação no desenvolvimento de materiais cênicos, videográficos, performativos e de composição espacial, a partir das propostas enunciadas pelos artistas no grupo, discutidas e experienciadas. Damos ênfase à sequência deste criar coletivo, desde sua pergunta geradora (pergunta mantra) até sua proposição poética pelo coletivo. A importância deste registro é ampliar o diálogo entre diferentes criadores e o público apreciador (uma vez que todos podem ter acesso a este registro na web), desvelando os passos de construção da obra. Acreditamos que o processo compartilhado se converte em produtos poéticos que compõem um seriamento de obras: o ponto final da criação é o ponto atual da criação.
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