Experimento 2 - Contra - Tese
Dia 27 de outubro
TUSP - Teatro da USP
Luiz: Tem muita gente na minha frente, tem muita gente atrás de mim, não sinto meus pés, não sei se piso no chão ou me levantam, me incomoda estar aqui, preciso sair daqui, agora é tarde demais, devia ter esperado mais um pouco, de passagem para quem sai, estão me empurarrando, se ninguém me empurrar não vou sair daqui.
Ieltxu: Outros olhos me olham, ela rí, sinto no meu cangote, outro sim, agora toque no calcanhar esquerdo, pisaram, me mexo, sem reação da própria que... desencano, que quase come a meia do meu calcanhar, sem violência, abre uma festra, reflexo no vidro, sempre mesmo pensamento, grandes peitos a minha esquerda, sentada, como bichos na topera, não tem como não olhar, sinto o asfalto acima de minha cabeça, os outros estão ai, não percebem, onde olho?
Julião: Preciso proteger o misto quente que trago na mochila, meu almoço, paramos para aguardar a movimentação, só andei dois metros. Pressiona meu sanduiche, velha tagarela, meu filho falou, repartição ela é uma vaca, meu celular no bolso, cabelo, cabelo, cabelo.
Paulo: A porta se fecha e vejo meu reflexo no vidro da porta. Serei o próximo. Na minha frente a canaleta. Atrás de mim corpos, meu corpo, outros. Torcer para não ser empurrado. O trem se aproxima e os corpos se aglomeram. A porta se abre. Estou dentro. FIQUE NOS LIMITES DESABAFE DESISTA. Avidamente esperando pelo total aniquilamento com esperança no nada, a pausa interminável.
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