O QUE É A HABITAÇÃO BRUTA?

Habitação Bruta
Projeto Zona de Risco 2010 - Derivas/CCSP


O objetivo foi trabalhar interferindo nas dinâmicas próprias do Centro Cultural São Paulo e construir dramaturgia a partir da observação das reações desencadeadas. Assim, interferir criticamente no modo de produção de subjetividades da megalópole.


O Coletivo Bruto habitou o Centro Cultural São Paulo nos meses de setembro, outubro e novembro de 2010. Essa Habitação Bruta partiu da sala Ademar Guerra (esconderijo, aparelho, célula, sala de estar, residência) para os outros espaços do Centro Cultural (biblioteca, passagens, áreas de convivência, áreas técnicas, discoteca, área expositiva, etc.) a fim de criar um fluxo/diálogo poético. 



Durante este período, ocorreram ações de observação das dinâmicas do espaço, com seus freqüentadores, acervos e funcionários. Foram criados programas performativos de intervenção, que reagiram estas dinâmicas e criaram uma dramaturgia, refletindo a relação porão/CCSP – CCSP/cidade de São Paulo. O Centro Cultural São Paulo pode ser entendido como metáfora da cidade?
Partimos de um pressuposto dramatúrgico que se alia a nossa pesquisa atual: a suspensão como ação contestatória e uma discussão sobre o egoísmo. Assim, o “egoísta” sai, relacionando-se com o CCSP/cidade, em busca de material que providencie sua sobrevivência, e retorna para seu esconderijo/porão para uma nova suspensão crítica.
As ferramentas teóricas usadas para as ações de observação crítica e criação foram a idéia de deriva, a idéia de rede (quentes e frias) e os princípios da intervenção/instalação/performance.
As linguagens artísticas utilizadas nesta criação foram resultantes das necessidades formais do material, podendo aliar dança, vídeo, teatro e artes visuais.




Hipóteses

- O Centro Cultural São Paulo é uma metáfora da cidade;
- O egoísmo é necessário a sobrevivência;
- A suspensão pode ser uma ação crítica as situações de bloqueio dos fluxos espaço/temporais, do regime violento e invisível da velocidade tecnológica e do controle.

Trabalhamos com três categorias espaço-temporais:


            Boqueio:
Percebido na cidade como: Trânsito, aglomerações, enchentes, quedas de sinais, blackouts, catracas, portas eletrônicas, portarias.
Percebido na zona de deriva como: Desvios, catracas, portarias, funcionários, áreas técnicas restritas, modulação dos espaços expositivos, horários.


Controle virtual e campo de visão:
Percebido na cidade como:  Câmeras de segurança, facebook, twiter, sites de relacionamentos, guaritas, walktalks, arquitetura vertical, subterrâneos, luz artificial, todos os monitores, Google earth, Skype, GPS.
Percebido na zona de deriva como: Paredes de vidro, ritmos de cobertura (espaço aberto e fechado), janelas, vãos, modos de consulta do acervo, todos os monitores.


Dromocracia - dromocracia nomeia o regime invisível da velocidade tecnológica como epicentro descentrado de estruturação da vida humana (conceito usado por 
Paul Virilio): Percebido na cidade como: Ritmo de trabalho, deslocamentos, informação generalizada e descartável, demandas sistemáticas do outro, conexões on time, fluxo de capitais.
Percebido na zona de deriva como: Informações generalizadas, rede elétricas, espaços de parada, sono, espaço horizontal, rampas.


Quantitativo 
82 dias;
11 semanas e meia;
04 Observações ativas;
05 Observações passivas;
03 Programas coletivos;
05 apresentações de GUERRA CEGA SIMPLEX;
02 Ensaios Nômades ( dias 03 e 12 de novembro);
08 proponências artísticas individuais (mínimo), todas apreciadas pelo fórum crítico do Coletivo Bruto;
01 coquetel/programa de abertura (dia 18 de setembro, das 19h30 as 21h30);
04 proponências “EI!” ( Encontros de Improvisação);
02 amostragens finais dos materiais criados dentro da Habitação Bruta;
01 espetáculo/experimento.

Ficha técnica
Provocadores Cássio Santiago e Elisa Band | Atuadores Luiz Henrique Lopes, Maria Tendlau, Mariana Sucupira, Paulo Barcellos e Wilson Julião | Produção Executiva de Palipallan Arte e Cultura  | Coordenação de produção de Wilson Julião | Coordenação técnica de Paulo Barcellos | Parcerias de Le Commedien Tropicales, Key e Zetta Cia. e Weeinz.






FRAGILIDADE


Habitação Bruta
Projeto Zona de Risco 2010 - Derivas/CCSP

Alguém, vestido com camisola hospitalar, entra no CCSP pela entrada principal e percorre o Centro empurrando seu carrinho de soro, com o tubo supostamente espetado no braço, e uma mochila nas costas. Depois de percorrê-lo, dirige-se à biblioteca, acomoda-se, retira um notebook da mochila e trabalha durante cerca de 10 minutos. Depois, guarda o notebook, sai da biblioteca e dirige-se para a saída. Repete o procedimento durante toda a tarde, com intervalos de uma hora. Durante o procedimento, simplesmente não interage, comporta-se como se fosse invisível. O procedimento é observado e registrado por membros do Coletivo.



Por que: dar visibilidade clara ao sentimento de “auto-suficiência possível”, que se mostra claramente quando se está numa condição de fragilidade, precariedade e dependência característica de uma situação fisicamente patológica, mas que impregna nossa vida cotidiana mesmo em situação de “normalidade”. 

ÓPERA OU VAMOS VER COMO ANDA NOSSA VELHA CONHECIDA GUERRA

Habitação Bruta
Projeto Zona de Risco 2010 - Derivas/CCSP 

Usuários do centro cultural são convidados a assistir uma ópera ás 18h30 de alguns dias úteis.
  
Procedimento 1: Gravar o repertório mais ouvido da discoteca do Centro.  
Procedimento 2: iPods com fones para 4 participantes de cada vez.  
Procedimento 3: 4 binóculos  
Procedimento 4: Levar os usuários até a área externa do piso expositivo  e colocá-los em cadeiras defronte à Av 23 de Maio.  
Procedimento 5: todos ligam os iPods e pegam os binóculos e assistem  o congestionamento da 23 de maio ao som de músicas de La Nave Va.




Porque: Contrapor a matéria poética com o cotidiano caótico e ressignificar o ato de assistir. Assistir como ato de voyerismo, borrar os limites do que é público e do que é privado. Várias outras camadas.  

Material: Recurso de gravação do acervo, 4 ipods, 4 binóculos, 4 cadeiras, 4 fones de ouvido para os ipods.  
Pesquisa: Período de 1 semana 
Récitas: Sempre as 18h30 em uma segunda, uma quarta e uma sexta. Dias 18, 20 e 22 de outubro  

APENAS CANSADA DESTA MERDA – WW

Habitação Bruta
Projeto Zona de Risco 2010 - Derivas/CCSP

Egoísta é: Auto explicativo  Quem: Eu  O que:  Enunciado: Uma mulher vestida com uma fantasia de mulher maravilha (daquelas bem mequetrefe de loja de artigos para festa), coloca uma cadeirinha num lugar de passagem e se senta. Traz consigo um pequeno amplificador e um microfone. Ela se senta, baixa a cabeça, se prostra, uma mão apoiada no colo com a palma para cima, a outra segurando o microfone, um texto escrito em letras pequenas sobre o colo. Ela não olha para ninguém. Ela começa a ler o texto “Diferenças entre um egoísta e um egocêntrico” no microfone, mas bem baixinho e lento. Ela repete o texto três vezes. Se levanta e vai embora. 


Porque: Estranhar a relação entre os atos heróicos e os atos egoístas. Revelar a falência do comum. Estranhar o fetiche do super-herói. 

Material: Nossa cadeirinha 1 microfone 1 amplificador portátil 1 fantasia de mulher maravilha  Quando e onde: 5 vezes, em horários diferentes; na passagem onde ficava anteriormente a bilheteria, perto do vidro da sala Adoniran Barbosa; perto da gibiteca; no espaço entre armários do guarda volumes; no terraço atrás do espaço expositivo; na entrada com ligação para o metrô. 
Registro: Filmagem das pessoas observando, bem discreta e de longe.  

ONDE. JÁ. CIVIL

Habitação Bruta
Projeto Zona de Risco 2010 - Derivas

05 amigos trabalhadores de construção civil ( da COOPROFIS, cooperativa de trabalho dos profissionais operacionais do setor de construçõa civil) sentados numa mesa, servida de café e comidinhas, ensinam apenas com enunciados os membros do Coletivo Bruto a construírem um muro de 2mtsx2mts nas dependências do CCSP, em cima de um plástico preto delimitador. Os trabalhadores de construção civil são “microfonados” e suas vozes amplificadas no espaço. Terminada construção do muro pelos integrantes do Coletivo Bruto, trocam-se os lugares, os trabalhadores erguem outro muro, paralelo e distante 2mts. do primeiro. O Coletivo Bruto assiste, em silêncio. Ao final, todos derrubam ambos os muros. O programa tem a duração da construção e das quedas dos 02 muros.

Wilson Julião, Paulo Barcellos, Maria Tendlau, Mariana Sucupira e Elisa Band

Pra que? - Para explicitar a distância entre o fazer e o falar;
Para ficcionar através da ingerência de materiais/usuários alheios ao CCSP;
Para construir a imagem de dois bloqueios com acabamentos díspares, mas que se igualam ao cumprir as mesmas funções;
Para povoar o ambiente com pontos de vista diferentes e humor característico de um grupo de amigos e para contrapor essa forma relacional com a do Coletivo Bruto;
Para contrapor os equipamentos rústicos aos tecnológicos que habitam o CCSP;
Para registrar o ocorrido e exibir em vídeo ao lado da obra, durante o período de permanência da instalação.




Na mesa, os cooperados Julio, Sr. José, Nelson, Sr. Dalci e Esmael.

Material necessário

Para a performance:
160 blocos de cimento;
04 sacos de cimento;
1 metro de areia;
04 sacos de cal
8 mts. de plástico preto ( para forração do chão)
1 mesa;
cadeiras;
03 microfones;
sonorização para os microfones;
café, bolachas, petiscos;
1 câmera de vídeo;
1 tripé;
                                                                             


Para a exposição
1 tv ou monitor;
1 dvd player.


A instalação, acompanhada de vídeo do processo, ficará em exposição até o dia 21 de novembro, no piso Caio Graco, Centro Cultural São Paulo.

C.C.,S.P. (Centro Cultural, Seu Próprio) - Chocadeira

Habitação Bruta
Projeto Zona de Risco 2010 - Derivas



Uma estrutura de papelão de 1m x 1m x 2m. Essa estrutura de papelão estará envolto e preso a um andaime para lhe dar sustentação e rodas para locomoção, se o atuador desejar. Pequenos furos na caixa para o passante observar o freqüentador do C.C.,S.P. Dentro do Seu Próprio Centro Cultural, o atuador poderá levar qualquer material (livro, guitarra, computador, lanche) para passar o tempo mínimo de 1 hora. Haverá ganchos para o atuador pendurar suas coisinhas. Não é permitido conversar com o exterior.


Para que? - Experienciar o preenchimento do tempo de dentro do C.C,S.P. Para não acreditar que sua vida seja enfadonha. Possibilitar um espelhamento do passante, que está no CCSP, na tentativa que ele próprio se perceba nesse espaço maior. 




Atuadores: Paulo Barcellos com sua guitarra, Maria Tendlau e seus desenhos, Wilson Julião com bexigas, Carlos Canhameiro com sua dança, Tetembua Dandara com seus patins escorregadios e Mariana Sucupira com seus pés dançantes.