O QUE ESTÁ AQUI É O QUE SOBROU
(2012)
Após finalizar a etapa de pesquisa para
construção de estrutura de dramaturgia própria, entre julho de 2011 a maio de
2012, viabilizada pelo Programa de Fomento ao Teatro da Cidade de
São Paulo - 18° edição, o Coletivo Bruto conclui sua pesquisa com a estréia e
temporada de O Que Está Aqui é O Que
Sobrou, livremente inspirada nas obras O Declínio do Egoísta Johann Fatzer
(Brecht e Müller) e em Héracles 2 ou a Hidra (Heiner Müller), totalizando assim um percurso de 2 anos
de pesquisa. Para essa etapa de encenação e temporada de 12 apresentações no Galpão do Folias, contamos com o Prêmio
Funarte de Teatro Myriam Muniz 2011.
O Que Está Aqui dá continuidade a
uma linha mais ampla de pesquisa, que se iniciou com o processo de montagem de
nosso primeiro espetáculo, Guerra Cega Simplex Feche os Olhos e Voe ou
Guerra Malvada (2008). Tratava-se então de pesquisar formas de
tratamento estético da guerra, enquanto fenômeno limite que concentra e
catalisa significações dispersas nas relações de conflito e dominação que
estruturam as sociedades modernas e contemporâneas (conflito de alcance ilimitado, com mobilização extrema de recursos
humanos, mercadológicos, industriais, políticos, agrícolas, militares, naturais
e tecnológicos).
O texto de Armin Petras e Pernille Sonne, Guerra Cega Simplex,
é claramente inspirado na obra de Heiner Müller e contém inúmeras referências a
ela, o que nos levou naturalmente ao estudo da peça incompleta de Brecht O
Declínio do Egoísta Johann Fatzer, postumamente organizada e editada
por Müller e em Heracles 2 ou a Hidra, também
de Müller. Interessamo-nos,
no Fatzer, em Heracles por alguns temas comuns: o estado de suspensão política,
temporal e territorial; a convivência e o egoísmo; os mecanismos de controle; o
Terror e as batalhas que os
protagonistas tentam compreender, planificar (a partir de onde, de que ponto,
eles lutam? Lutam de fora, de dentro, lutam pela batalha ou contra ela? É
possível não lutar?
Assim propusemos uma encenação onde os personagens tentam fazer uma
análise de conjuntura, para se posicionar politicamente, mas diante da
dificuldade, fracassam. Quatro
documentaristas tentam editar um documentário (talvez sobre a violência) e se
vêem absorvidos por uma profusão de imagens que não conseguem organizar em um
discurso poético capaz de traduzir um consenso entre eles. A convivência os
leva ao esgotamento e eles são obrigados a, em certo momento, rever seu
percurso até o presente e, num segundo, a se despojar de certezas, para que
possam reiniciar o percurso numa tabula rasa. Não pode sobrar resto.
Como artistas, tentamos fazer o caminho inverso ao do Fatzer de
Brecht. Ao invés de abandonar o fluxo histórico, nos posicionamos no centro do
bombardeamento cotidiano de informações e imagens em que vivemos e assim,
também recolocar a questão do engajamento num momento em que o sistema
capitalista é tão totalizante que o ponto de vista exterior inexiste.
Convivemos assim com toda espécie de imagem colhida na Internet,
referencias pops, discursos absurdos veiculados na TV e na Web. O espaço cênico
é envolvido por três telas de projeção e as imagens, ora dialogam com a cena,
ora funcionam como fundo cenográfico e ora apenas atordoam os atuadores. Estas
imagens sempre estão remetendo ao mundo exterior ao espaço cênico, não
permitindo aos personagens, se desconectarem de um discurso imagético que foi
produzido ou como cultura de massa, ou como cobertura jornalística, ou como
memória do próprio processo de criação.
Sinopse
Reclusos numa “ilha de edição”, quatro figuras se debatem na tentativa
de finalizar um vasto material em vídeo composto de entrevistas reais e
material captado da web. Envolvidos por um emaranhado de imagens reais e ficcionais
o grupo de documentaristas fracassa em sua tarefa quando a violência cotidiana
se volta contra o próprio grupo. O
que resta é abandonar suas velhas ideologias (abandone o posto) na tentativa de
encontrar uma saída e planificar o aprendizado coletivo.
Ficha Técnica
Direção Maria
Tendlau e Paulo Barcellos
Atuadores Ieltxu
Martinez Ortueta / Luiz Henrique Lopes
Paulo Barcellos / Wilson Julião
Paulo Barcellos / Wilson Julião
Colaborador de dramaturgia Alexandre
Dal Farra
Organização final de dramaturgia Maria
Tendlau, Paulo Barcellos e Alexandre Dal Farra
Produção executiva Maria
Fernanda Coelho
Projeto de Luz Daniel
Gozales
Programação visual Ieltxu
Martinez Ortueta
Fotos Ivana Debértolis
Assessoria de imprensa Sylvio
Novelli
Operação técnica Marcos
Cruz e Daniel Gonzales