Experimentos de Aproximação com o Público [E.A.P.] - Saída

EXPERIMENTO 3 - saída

17 de novembro - quinta
Tusp - Teatro da USP
19:00. Gratuito.





EXPERIMENTO 2 - contra-tese
27/out







EXPERIMENTO 1 - tese
06/out





Experimentos de Aproximação com o Público [E.A.P.] - Contra-tese

Experimento 2 - Contra - Tese
Dia 27 de outubro
TUSP - Teatro da USP




Luiz: Tem muita gente na minha frente, tem muita gente atrás de mim, não sinto meus pés, não sei se piso no chão ou me levantam, me incomoda estar aqui, preciso sair daqui, agora é tarde demais, devia ter esperado mais um pouco, de passagem para quem sai, estão me empurarrando, se ninguém me empurrar não vou sair daqui.
Ieltxu: Outros olhos me olham, ela rí, sinto no meu cangote, outro sim, agora toque no calcanhar esquerdo, pisaram, me mexo, sem reação da própria que... desencano, que quase come a meia do meu calcanhar, sem violência, abre uma festra, reflexo no vidro,  sempre mesmo pensamento, grandes peitos a minha esquerda, sentada, como bichos na topera, não tem como não olhar, sinto o asfalto acima de minha cabeça, os outros estão ai, não percebem, onde olho? 
Julião: Preciso proteger o misto quente que trago na mochila, meu almoço, paramos para aguardar a movimentação, só andei dois metros. Pressiona meu sanduiche, velha tagarela, meu filho falou, repartição ela é uma vaca, meu celular no bolso, cabelo, cabelo, cabelo.
Paulo: A porta se fecha e vejo meu reflexo no vidro da porta. Serei o próximo.  Na minha frente a canaleta. Atrás de mim corpos, meu corpo, outros. Torcer para não ser empurrado.  O trem se aproxima e os corpos se aglomeram. A porta se abre. Estou dentro. FIQUE NOS LIMITES DESABAFE DESISTA. Avidamente esperando pelo total aniquilamento com esperança no nada, a pausa interminável.


Agradecimentos e fotos E.A.P. - Tese

O Coletivo Bruto agradece a todos os parceiros e amigos que estiveram presentes em nosso primeiro Experimento de Aproximação com o Público / Tese que aconteceu no dia 06 de outubro. Aos amigos do Commediens Tropicales, Tetembua Dandara, à presença em peso do grupo PH2, ao Paulo do Estúdio Luzia, à amiga e fotógrafa Ivana Debértolis e à Coordenadoria e Responsável Técnico do TUSP - Teatro da USP, nossa mais sincera gratidão.

Aproveitamos para convidar a todos para o segundo Experimento:

Contra-tese

27 de outubro (quinta-feira) -
19 horas
Tusp - Teatro da USP
Rua Maria Antônia, 294
Fone: 3123 5233
Entrada gratuita

Veja algumas fotos:






Da série MOTHERFUCKERS

Identidade



Família



Porco Capitalista



Imperativos


Realização: Coletivo Bruto
Fotos: Ivana Debértolis
Composição: Paulo Barcellos


Experimentos de Aproximação com o Público [E.A.P.]

O Coletivo Bruto convida a todos para participar dos Experimentos de Aproximação com o Público [E.A.P.].

Serão quatro encontros, sempre às 19:00, no TUSP. Gratuito.



Apareçam.

Em que ponto estamos diante do descampado?

O que nos provoca inicialmente nos impulsos textuais O Declínio do Egoísta Johann Fatzer e Heracles 2 ou a Hidra, e na história da Fordlândia,  para a criação de uma dramaturgia própria, e sua encenação, é a existência de um impasse. Há uma suspensão, uma interrupção, uma inércia presentes nesses materiais, provocadas por uma espécie de deslocamento dos personagens em relação ao espaço do confronto e à tentativa do controle, geradas por manipulações externas, internas e/ou por sistemas não identificados pelos protagonistas.

Em Fatzer, quatro soldados desertam na 1ª Guerra Mundial – que consideram ser uma “guerra de outros” - e se vêem num campo deserto, muito semelhante ao descampado de Esperando Godot, de Beckett. Posteriormente, reclusos num porão, esperam a possível revolução que poria fim a guerra. Na luta pela sobrevivência, na tentativa de organizar a convivência, a violência volta-se contra o próprio grupo e o soldado Fatzer acaba executado pelos companheiros.

Em Heracles, o herói está numa floresta a caminho da batalha. Deve cumprir essa tarefa, entre as outras onze. Quando se dá conta, envolvido pela floresta, descobre que estar na floresta já é a batalha. Ele quer então desistir, mas a batalha/floresta o mede, o sufoca e o devora. Ele está no interior, no seu centro, e não em um dos dois lados. Deslocado, já não consegue agir, não consegue senão abandonar-se.

Já na história verídica da Fordlândia, Henry Ford constrói cidade e fábrica no coração da Amazônia, no ano de 1927, para maximizar a extração da borracha e a fabricação de pneus. Vemos um “herói” capitalista na tentativa de controlar a natureza e o comportamento dos seringueiros, contrariados pela nova cultura que a eles se tenta impor. Ford fracassa e o que resta são ruínas de uma cidade. Fracassa a tentativa de deslocar o centro da produção industrial de automóveis para um lugar absolutamente distante dessa realidade, o deserto verde da Amazônia.


Nos três casos, os protagonistas são envolvidos em uma batalha que tentam compreender, planificar. As questões que se colocam são várias. A partir de onde, de que ponto, eles lutam? Lutam de fora, de dentro, lutam pela batalha ou contra ela? É possível não lutar?
E agora, o quê? Qual é nosso ponto Fatzer?

Fatzer - “E assim avança a massa ordenada da humanidade por falsos objetivos. E assim, da nova arte e do prazer em manter o ritmo. O ponto representa Fatzer. Este sou eu e aqui contra mim uma linha sem fim. Mas aqui vejo de repente uma outra linha atrás de mim que também está contra mim. O que é isso?”

Deus é o zero

Recentemente quando
Andávamos sobre a ponte de ferro
Às sete horas da tarde e
Como não sabíamos
O que fazer, paramos
Contemplando a água
Nós olhávamos
Lá para o lado claro
Enquanto ele
Olhava o escuro.

B. Brecht

Suspensão

A idéia de suspensão nos inspira formalmente a escrita de uma dramaturgia também em suspensão. Na farmacopéia, na química, suspensão é um estado provisório na mistura de um liquido ou gás nos quais, o material particulado encontra-se em movimento. É um tipo de mistura heterogênea em que, ao contrário da solução, o solvente não se dissolve no soluto. Uma suspensão ideal tem como características a diminuição da velocidade de separação, ou seja, nesta mistura, as partículas em suspensão demoram a se sedimentar.


Esta imagem nos inspira a experiência de criar uma estrutura de dramaturgia, em que os elementos não se fundem, mas que permaneçam suspensos em uma mistura da qual não se pode dizer que é homogênea, mas que, também, não facilita a separação dos elementos antes de sua lenta sedimentação. A sedimentação neste caso, se dá na leitura dos espectadores. Pesquisamos uma escrita cênica em que a leitura de cada elemento exija do observador uma espécie de divagação individual e única. A suspensão está presente na cena e se espelha no estado proposto aos espectadores para sua leitura.


Registros de procedimentos de criação

Os procedimentos de criação que investigamos, e mesmo uma “ética da criação”, presentes nas intervenções cênicas que criamos, podem ser percebidos formalmente nos seguintes aspectos: convivência efetiva entre diferentes estilos e linguagens; permanência das características individuais de atuação, privilegiando a “apresentação” de cada atuante  acima da qualidade de representação; e, por fim, o desvelamento dos processos de criação na cena, com ênfase numa espécie de “poluição da informação”. Trabalhamos por uma técnica de soma, de sobreposições e atritos de diferentes matérias, em contraponto a uma idéia de limpeza, síntese ou redução. Este procedimento possibilita revelar uma precariedade que dialoga com a própria condição da cena (com seus acordos e jogos instáveis estabelecidos na convivência), mas também com a condição política de precariedade em que vivemos. Assim, o acabamento cheio de arestas nos permite revelar um humor mais sarcástico, uma exposição do irresoluto, certa perversidade que a condição de precariedade nos impõe.

Onde irá acontecer o irresistível passeio de Héracles/Fatzer?



Registramos o processo de criação no desenvolvimento de materiais cênicos, videográficos, performativos e de composição espacial, a partir das propostas enunciadas pelos artistas no grupo, discutidas e experienciadas. Damos ênfase à sequência deste criar coletivo, desde sua pergunta geradora (pergunta mantra) até sua proposição poética pelo coletivo. A importância deste registro é ampliar o diálogo entre diferentes criadores e o público apreciador (uma vez que todos podem ter acesso a este registro na web), desvelando os passos de construção da obra. Acreditamos que o processo compartilhado se converte em produtos poéticos que compõem um seriamento de obras: o ponto final da criação é o ponto atual da criação.

O caráter destrutivo

"O caráter destrutivo é jovial e alegre. Pois destruir remoça, já que remove os vestígios de nossa própria idade; traz alegria, já que, para o destruidor, toda remoção significa uma perfeita subtração ou mesmo uma radiciação do seu próprio estado. O que, com maior razão, nos conduz a essa imagem apolínea do destruidor é o reconhecimento de como o mundo se simplifica enormemente quando posto à prova segundo mereça ser destruído ou não. Este é um grande vínculo que enlaça harmonicamente tudo o que existe. Esta é uma visão que proporciona ao caráter destrutivo um espetáculo da mais profunda harmonia." (W. Benjamin – O caráter destrutivo)



HERÁCLES, ou a HIDRA friccionado em ÉDIPO REI





HERÁCLES,  ou a HIDRA  friccionado em ÉDIPO REI

procedimento de Wilson Julião

PRIMEIRA ETAPA – Composição, registro e a busca do ego de um semi-deus
O elenco chegará e será convidado a se paramentar/enfeitar com  fitas de isolamento para um “ensaio fotográfico bruto”.
Mariana será a fotógrafa e tem por objetivo encher o ego dos modelos, com inúmeros elogios e palavras de encorajamento. Alexandre, Fernanda e Anna, saberão dos objetivos e serão convidados à também elogiar e “mimar” os modelos.






SEGUNDA ETAPA – Transporte, fábula e violência.
Ao final da primeira etapa, o elenco é informado que farão uma saída e que podem manter os paramentos ou não, mas que NECESSARIAMENTE, terão os olhos vendados com as fitas e que não deverão tirar-las durante todo o percurso.  São informados que serão conduzidos até o carro1.
Secretamente, o carro 2,  sairá junto com o carro 1 e o acompanhará durante o percurso. É aconselhável que o elenco pense que os demais ficarão no GAG.
No carro 1, o elenco ouve versões resumidas e pops da fábula de Édipo.
O carro 2 acompanha o carro 1 até uma rua mais pacata.
Carro 1 sinaliza com pistas acesos e carro 2 emparelha com carro 1 e buzina forte. Trava-se uma discussão de trânsito, regada à buzinadas.
Terminada a discussão, carro 1 sai, cantando pneus. Carro 2 acompanha, discreto.
Comboio chega numa praça.

TERCEIRA ETAPA
O elenco é convidado a explorar por alguns minutos a praça. A equipe devem colaborar para que os vendados não se machuquem. Exploração de caminhos, árvores, limites, topografia, arquitetura, cheiros, etc. TUDO NO MAIS ABSOLUTO SILÊNCIO. Os integrantes do carro 2 estão lá, mas não serão percebidos pelo elenco...

QUARTA ETAPA
No carro 1, em retorno, a pergunta:
“No texto do Muller, O Herácles está na batalha e ainda não percebeu.  E na vida de vocês, qual o equivalente?  Quando vcs estiveram já dentro da batalha e só o perceberam bem depois??”
O procedimento é gravado em áudio sem a percepção dos vendados.

QUINTA ETAPA
Retorno ao GAG. Chegada dos  vendados até sala, entrega de 03 folhas grandes de papel em branco, mais canetas diversas:
Folha 1: Desenhar/registrar a impressão da “floresta” visitada, inclusive os trajetos de ida e volta.
Folha 2: desenhar/registrar o fato rememorado, o quando” estiveram na batalha e não se deram conta.”
Folha 3: criação de uma PERGUNTA-MANTRA a partir da experiência vivida.




Procedimentos de Criação



          Os procedimentos de criação que começamos a investigar, presentes nas intervenções cênicas que criamos, tentam revelar as estereotipias, os fetiches, os entraves da representação e as lacunas geradas pela incapacidade de dar respostas que possibilitem avançar, ou ao menos sobreviver à vala comum.





O Fantasma está em cena 2

Como elaborar uma ideia de convívio real, se a demanda “terrorista” que se impõe no convívio é agora a reflexibilidade do desejo momentâneo, num processo de regulação que se dá subterraneamente no dia a dia do politicamente correto – “Faça o que eu quero como se realmente você quisesse fazê-lo”?!




O Que Está Aqui É O Que Sobrou



A atual pesquisa do Coletivo Bruto, O Que Está Aqui É O Que Sobrou, dá continuidade a uma linha mais ampla de pesquisa, que se iniciou com o processo de montagem de nosso primeiro espetáculo, Guerra Cega Simplex Feche os Olhos e Voe ou Guerra Malvada (2008). Tratava-se então de pesquisar formas de tratamento estético da guerra, enquanto fenômeno limite que concentra e catalisa significações dispersas nas relações de conflito e dominação que estruturam as sociedades modernas e contemporâneas.  

 Guerra Cega Simplex, claramente inspirado na obra de Heiner Müller, nos levou naturalmente ao estudo da peça incompleta de Brecht O Declínio do Egoísta Johann Fatzer, postumamente organizada e editada por Müller; de Héracles 2 ou a Hidra, de Müller; e da história da Fordlândia, cidade construída por Henry Ford no coração da Amazônia em 1927.  Interessamo-nos, no Fatzer, em Héracles e na história da Fordlândia por alguns temas comuns: o estado de suspensão política, temporal e territorial; a convivência e o egoísmo; os mecanismos de controle e o Terror.
  
Após realizarmos a Habitação Bruta em 2010, partimos para a etapa final da pesquisa. Viabilizada pelo Programa de Fomento ao Teatro da Cidade de São Paulo - 18° edição, o Coletivo Bruto desenvolve, entre junho de 2011 a março de 2012, o processo de construção de estrutura dramatúrgica inspirada nos textos e na historia mencionados acima.
Durante esse processo, realizaremos quatro encontros com o público para compartilharmos, de forma interativa, etapas do processo de criação (Experimentos de Aproximação com o Público) e um Experimento Poético Final (estrutura dramatúrgica) aberto ao público, que sintetizará os resultados obtidos durante o processo.

Coordenação artística geral
Paulo Barcellos e Wilson Julião
Atuadores
Ieltxu Martinez Ortueta

Luiz Henrique Lopes

Paulo Barcellos

Wilson Julião
Colaborador de dramaturgia
Alexandre Dal Farra
Colaboradora em View Points
Miriam Rinaldi
Colaboradores em linguagens corporais
Key Sawao e Ricardo Iazzetta
Produção executiva
Palipalan Arte e Cultura
Coordenação técnica
Paulo Barcellos
Registro e compartilhamento web
Mariana Sucupira
Administração
Wilson Julião